«A política relacionada com a imigração não vai desaparecer em breve porque as migrações transcontinentais e intercontinentais voltaram a ser uma característica da sociedade europeia e os receios e preconceitos garantirão que continuarão a ser consideradas disruptivas e politicamente exploráveis. Nas décadas anteriores, os preconceitos contra os imigrantes polacos, italianos ou portugueses acabaram por desaparecer à medida que os seus filhos, que não se distinguem pela religião, nem pela língua, nem pela cor, se fundiram na paisagem social. Estas vantagens da invisibilidade cultural e física não estão ao dispor dos seus sucessores oriundos da Turquia, da África, da Índia ou das Antilhas. A Europa tem muito pouca tradição de assimilação efetiva - ou, alternativamente, de «multiculturalismo» - quando se trata de comunidades verdadeiramente estrangeiras. Estes imigrantes e os seus filhos engrossarão as fileiras dos «perdedores» na competição pelos reduzidos recursos da Europa Ocidental.»
Tony Judt (sublinhado nosso)
Tony Judt, “Europa: a Grande Ilusão” in Quando os Factos Mudam, Ensaios 1995-2010, Edições 70, pág. 49.
(Ensaio originalmente publicado no The New York Review of Books, em julho de 1996)
***
Actualmente, mais do que nunca, assistimos a uma dificuldade de assimilação de imigrantes oriundos do mundo não ocidental. Estes imigrantes não possuem as “vantagens da invisibilidade cultural e física” de que falava Tony Judt, em 1996. São mais facilmente visados. O estranho entre nós torna-se visível, com consequências significativas nas relações interpessoais e nas tendências da política das nações ocidentais, que possuem populações mais velhas, mais fechadas, mais temerosas e conservadoras.
 

 
 



